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segunda-feira, 1 de julho de 2013

UM SONHO QUE PODE VIRAR REALIDADE...NO LATA VELHA DO HUCK

Sitiante espera casar com carro reformado por Huck

Uma carta ao apresentador Luciano Huck, da TV Globo, revela o desejo de uma pequena sitiante e lavradora de Santo Antônio da Alegria

F.L.Piton / A Cidade
Taciana e o sonho de ver a caminhonete funcionar de novo no dia do casamento (Foto: F.L.Piton / A Cidade
 
O sonho de casamento de uma noiva depende da boa vontade do apresentador Luciano Huck. E não se trata de nenhuma extravagância. É um pedido simples, carregado de boas lembranças.
Taciana da Silva Frighetto, 30 anos, casa-se no próximo 21 de setembro, em Santo Antônio da Alegria. Ela só faz questão de um presente: ser levada no trecho de 18 quilômetros, do sítio onde mora, na Serra do Pinheiros, até a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, local da cerimônia, na caminhonete Ford Rural, ano 1971, que sempre pertenceu à família.
O problema é que a velha picape, apelidada de Suçuarana, não roda mais. Está parada há mais de dois anos num pedaço de terra chamado Quinta da Boa Vista, a casa de Taciana.
Os pneus chegaram ao fim, a lataria enferrujou com a ação do tempo, a cor perdeu a definição, o banco da cabine está com as molas à mostra e o motor precisa de reparos. Para ela, só o apresentador da Globo, Luciano Huk, pode dar um jeito na Suçuarana e deixá-la novinha de novo. Uma carta já foi endereçada a ele.
A Suçuarana, chamada assim pelo ronco do motor, semelhante ao da onça-parda que habita a região, tem uma história rica. Levou Taciana na barriga da mãe para o hospital, e depois para o batismo. E também ao trabalho no cafezal, à cidade nos dias de festas e à escola. Não só ela, como a irmã Taís, dois anos mais velha, já casada.
Joia de família
Até Amauri César Frighetto, pai de Taciana, morrer, a picape foi a joia da família. Lavrador, pessoa estimada em Santo Antônio da Alegria, Amauri faleceu em 18 de junho de 2010. Tinha apenas 52 anos.
Poucos meses antes, quando percebeu que lhe faltavam forças para a lida diária, deixou as botinas do trabalho na caminhonete e foi internado no Hospital das Clínicas, em Ribeirão Preto. Não fumava e nem bebia. Foi vítima de um violento câncer no pulmão, que teria sido provocado pelo veneno que usou para recuperar as madeiras infestadas de cupim da igreja do Pinheiros, que restaurou sozinho e onde até hoje se realizam festas de Reis.
A morte de Amauri traumatizou a família e entristeceu os vizinhos da Quinta da Boa Vista, um sítio de seis alqueires, na Serra do Pinheiros, divisa com São Sebastião do Paraíso (MG). A esposa, Maria José, está vinte quilos mais magra. Só sai de casa para visitar o único neto em Franca, em busca de força.
Brava Suçuarana
A Suçuarana teve papel fundamental naquele pedaço da Serra do Pinheiros. Carregou madeiras e arames para cercas, levou doações recolhidas por Amauri para casas de caridade. Socorreu bezerros, cães e gatos doentes. Transportou adubos, mantimentos, tachos onde eram feitos doces em dias de festas. Pegou latões de leite em currais, levou voluntários para festas, membros das companhias de reis e amigos para jogos de futebol nas fazendas.
Sem falar das vezes que encaminhou doentes a hospitais ou levou corpos para a funerária de Santo Antônio da Alegria, que se recusava a colocar seus carros nas subidas íngremes e de terra batida da Serra do Pinheiros.
Foi na Suçuarana que Amauri se deslocou até a cidade para comprar a aliança de seu noivado, e também levou a noiva para experimentar o vestido do casamento. De Amauri, só as velhas botinas continuam lá, no assoalho da cabine, no seu derradeiro dia de trabalho.
Vender jamais
Depois da morte do pai, vários pretendentes apareceram na Quinta da Boa Vista para comprar a Suçuarana. A família recebia os compradores com educação e um firme não como resposta.
Os mais audaciosos – especialmente os fanáticos por carros antigos – chegavam a preencher cheques, oferecendo até o triplo do preço de mercado. Alguns deles foram rasgados por Taciana.
“Ver a caminhonete restaurada iria curar até a depressão de minha mãe. É também uma forma de sentir meu pai presente numa data especial e única. Seria como se ele estivesse me levando. Gostaria de encher a Suçuarana de flores e chegar nela na igreja”, diz Taciana.
Cafezal
Taciana e a mãe, Maria José, ainda cuidam do cafezal da Quinta da Boa Vista.
Antes de morrer, Amauri orientou a filha sobre a melhor maneira de tocar a plantação e comercializar a colheita. Como a irmão Taís é enfermeira em Franca, Taciana sempre ajudou o pai na lavoura.
Agora, assumiu interinamente a responsabilidade. Este ano, a expectativa é colher perto de 120 sacas limpas, de 60 quilos. Cada saca está cotada em R$ 270. O café é de boa qualidade. Mas com as despesas – adubo e mão de obra na colheita e preparo – deve sobrar pouco dinheiro.
“Estamos mantendo o nosso o café em memória de meu pai. Mas é custoso, difícil. Os pés beiram os 20 anos. A reforma da caminhonete iria nos dar um novo alento. Mas é preciso que tenha um engate, para não destruir sua carroceria novamente”, imagina Taciana.
Os planos de Taciana são simples. Casada com Osmar, motorista de transporte escolar, ela pretende morar com a mãe, na Quinta da Boa Vista. E, com isso, preservar o cafezal.
O arroz que será servido no almoço de seu casamento, ela colheu no sítio. São oito sacas.
“Arroz a gente já garantiu por muito tempo”, brinca.
Hoje, Taciana, formada em Publicidade e Propaganda, exerce cargo em comissão na Prefeitura de Altinópolis.
Num velho fusquinha, ela viaja 36 quilômetros diariamente, sonhando com a restauração da Suçuarana.
Agitadora cultural mandou carta ao Huck
Incansável agitadora cultural, a fama de Ana Maria Frighetto, 54 anos, casada, dois filhos, já ultrapassou os limites de Altinópolis. Há quatro anos, entre outras concorridas atividades, ela é jurada do Carnaval de São Paulo. Na passarela do Anhembi, ela julga o quesito Comissão de Frente nos desfiles das escolas dos Grupos Especial e de Acesso.
Prima em segundo grau de Amauri César Frighetto, coube a ela escrever e endereçar ao programa Lata Velha, do apresentador Luciano Huck, a saga da picape Ford Rural, ano 71, na vida da comunidade de pequenos proprietários de terra na Serra do Pinheiros, em Santo Antônio da Alegria.
“Aceitei o desafio por se trata-se de uma família digna, obreira, que sempre fez o bem. Quero ver a Taciana chegar na igreja, no dia de seu casamento, na caminhonete novinha em folha”.
A carta foi enviada no dia 15 de abril.
Ana ouviu que o programa já está gravado até julho. Ela não sabe se vai dar tempo, mas não perde a esperança. “Quem sabe, essa matéria cai nas mãos do Huck”, sonha.

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