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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

TAMANHO É DOCUMENTO?


Por Paulo Ghiraldelli- especial para o iG |
Alguns estudos na cultura britânica, com equivalentes na cultura latina e particularmente no Brasil, mostram que o homem, independentemente de preferências sexuais, lida com a imagem de seu corpo de um modo profundamente homossexual. O corpo todo é tratado como o que deve produzir uma imagem que impressione o outro homem, não a parceira. O tamanho do pênis, nesse caso, é o elemento central e mais importante.
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Não se trata de “egoísmo” ou “narcisismo”, como os recém-aficionados por esses termos dizem até nos fazer perder a paciência. Trata-se da velha e boa competição. Alguns gostam de explicar dizendo que é algo incrustrado na vida biológica, em função de que uma teologia da espécie motiva seus membros para que eles queiram derrotar o outro de modo que o vencedor, supostamente o mais forte (ou de mais sorte ou mais adaptado?), passe sua carga genética adiante. Ora, em uma competição não se olha só o ponto de chegada, mas também olhamos lateralmente, para nos medirmos com o concorrente. Desse modo, nosso “homossexualismo” de competição estaria justificado - para a tranquilidade dos que só de pensar em alguma homossexualidade própria já ficam arrepiados, e zangados conosco!
Mas, minha pergunta vai além: vivemos nós, homens, num mundo falso, onde nos deixamos levar pela briga com os concorrentes e nos esquecemos do alvo, a mulher? Afinal, podemos ter um pênis grande e lindo, capaz de deixar qualquer concorrente de bandeira branca na mão, mas e o resultado com a mulher, qual é?
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As mulheres são mais difíceis de pesquisar. Elas mentem. Ou mais exatamente: nesse tipo de pesquisa elas mentem mais que os homens. As mulheres falam no ambiente público que o tamanho não importa. Elas se comportam assim de modo a ampliar chances, não fechando portas antes da hora. Todos são bem vindos, em princípio. Todavia, no âmbito privado, com uma amiga ou um entrevistador mais sabido, elas não generalizam, mas contam como ficaram bem bravas ao perceberem o tamanho real do pênis do namorado, caso pequeno. Poucas sabem dizer se isso influenciou ou não no desempenho, ou seja, não sentiram muito prazer exatamente por considerarem que “ele tinha o pau pequeno”. Mas, no âmbito privado, reclamam de algum namorado “de pau pequeno”. Caso a conversa seja mais amigável, acabam dizendo que “pau pequeno, nunca mais”.
Os homens não acreditam nas mulheres que dizem, publicamente, que o tamanho não importa. Eles estão certos. Não se deve acreditar. No âmbito privado são poucas as mulheres que sustentam que “tanto faz”. O problema não é tanto o de penetração, pois, no geral, nenhum pênis é tão pequeno que não possa trabalhar no lugar certo de modo certo. Mas a questão é tátil e visual. Mais tátil que visual, no caso da mulher. O volume do pênis, principalmente capacidade da glande, sentida na mão e na boca, dão à mulher uma chance maior de gozo. Elas realmente acabam gozando de modo muito mais intenso. Ou seja, o prazer de pegar algo que preenche a mão e a boca dá para a mulher uma espécie de tranquilidade antecipada, não só excitação. É como se o corpo dela pensasse como um todo, dizendo: esse tamanho vai me preencher e vou gozar mesmo que eu não queira. Vem daí uma tranquilidade, e então, na penetração, ela goza.
Parece mais complexo do que o necessário, mas é assim que ocorre. É interessante que o homem, sem qualquer consciência disso, tenha uma espécie de sabedoria corporal sobre tudo. Ele olha para o pênis do concorrente e sabe em que estágio de poder ele está. A mulher, por sua vez, tem um conhecimento corporal também, mas que vai além, pois é um tipo de saber cinestésico. Ou seja, ela se excita e se tranquiliza ao pegar no pênis. Ela gosta de masturbar o homem porque há uma cinestesia de preenchimento das mãos e da boca e, ao mesmo tempo, também uma sensação de poder. O poder da mulher de saber que consegue, com as mãos e com a boca, sem a vagina, fazer o homem gozar e vê-lo totalmente desprotegido por alguns segundos, é uma vitória, um triunfo e um trunfo que faz a mulher muito feliz.
Claro que a mulher, hoje, quer gozar. Mas nem todas gozam. Muitas não gozam completamente, não possuem capacidade de gozo no interior da vagina. Mas isso não significa que elas queiram deixar de lado a ideia de exercerem poder, de controlarem os homens. Então, fazer gozar é importante. Uma mulher que goza só externamente (gozo clitorial), que nunca goza internamente, pode levar uma vida sexual quase que normal, mas, para tal, ela precisa sentir que exerce poder. Não podendo prender o homem na sua vagina, para gozar junto, ela pode fazê-lo desfalecer masturbando-o. A mulher que aprende a fazer isso sabe que domina o homem. Há mulheres que buscam aprender isso com homossexuais experts. Aí, podem ficar quase imbatíveis.
Os caminhos da sexualidade percorrem os espelhos que somos um para o outro. Espelhos dentro de redomas que acolhem os que fazem sexo são o essencial. As redomas, ou seja, o “nós” que se forma no sexo, concretiza para nós aquilo que é o nosso melhor lugar, o útero. Também no útero éramos dois, cada um com seu cordão umbilical e a proteção placentária. Esse nós sempre nos dará saudades. Quando nascemos, basta um pouco de segurança e um espelho para que tudo volte a parecer fechadinho, como o útero. O espelho é o outro, o parceiro ou parceira.
Nosso olhar do lado para ver o tamanho do pênis do concorrente às vezes até nos excita, nos achamos homossexuais então, mas não é isso - não necessariamente. É que ao olhar o pênis do outro, lembramos que a vitória vai nos levar ao alvo, a mulher, e esse alvo é a formação do “nós”, a volta ao lugar em forma de bola, no qual vivemos nove meses em um cinestesia prazerosa, sem esforço, como que um ser aquático que pode ser deixar levar sem precisar colocar os músculos em ação.
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Paulo Ghiraldelli, 56, filósofo, escritor, cartunista e professor da UFRRJ
http://ghiraldelli.pro.br

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