PT e PSDB intervêm em nove diretórios rebeldes no interior de SP
Líderes municipais serão punidos por contestarem regra que veta apoio recíproco entre os partidos
Bruno Lupion, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Seis diretórios municipais do PT e três do PSDB no interior de
São Paulo serão dissolvidos e terão seus líderes substituídos como punição por
declararem apoio a candidatos a prefeito do partido oposto. Desde 1996, as
executivas nacionais petista e tucana proíbem apoios recíprocos, mas a regra é
alvo de contestação de lideranças locais, que se consideram submetidas a uma
polarização forçada.
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No flanco petista, serão dissolvidos os diretórios de Aramina, Ariranha,
Cássia dos Coqueiros, Colômbia, Ribeirão Bonito e Santa Rita D´Oeste, cujos
líderes decidiram pedir aos seus eleitores que votassem 45. Na outra ponta, a
executiva estadual do PSDB intervirá nos diretórios de Paraíso, Barra do Turvo e
Murutinga do Sul para impedir que os tucanos desses municípios apoiem candidatos
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Em todos os casos, são cidades pequenas, com menos de 9 mil votantes e eleições disputadas entre dois ou três candidatos - um contexto local favorável à aproximação entre partidos que, nacionalmente, se apresentam como inimigos.
Um exemplo é Santa Rita d´Oeste, no noroeste paulista, onde o PT local decidiu apoiar a reeleição do prefeito tucano Walter Muller. A cidade tem 2.376 eleitores e, até a véspera do prazo de inscrição de candidaturas, tinha apenas um candidato: o próprio prefeito. Nesse cenário, Osmar Sampaio, vereador e presidente do diretório municipal do PT, declarou voto em Muller, em troca da promessa de receber o apoio do tucano para se eleger prefeito em 2016.
O petista argumenta que Muller é aprovado por 80% da população, o que torna sua reeleição praticamente certa, e que se o PT decidisse lançar candidato próprio, não alcançaria coeficiente eleitoral para eleger nenhum vereador. "Se eu fico fora da coligação (de Muller), fico fora da política", resume. Ele afirma que a decisão foi apoiada por todos os 107 filiados do diretório, que apostaram em "uma construção para o futuro".
Sampaio rejeita a pecha de infiel e diz que não há motivo para ser oposição "só para ser do contra". "Infidelidade partidária é mensalão, é corrupção, nós não estamos fazendo nada mais do que brigar pelo bem-estar do município", ataca.
Contudo, para Edinho Silva, presidente estadual do PT, o assunto está decidido e os diretórios que desobedeceram a regra serão dissolvidos. "Há municípios que se esforçaram para lançar candidato próprio, não podemos privilegiar a incoerência", diz.
Em Murutinga do Sul, no oeste paulista, ocorre o inverso. O diretório tucano aderiu à coligação liderada pela candidata do PT, Neide Viola, após ser rejeitado pela chapa de oposição, liderada pelo PTB. O secretário do diretório, Luiz Wilson Barbosa, argumenta que o partido não alcançaria o quociente eleitoral mínimo para eleger sequer um vereador caso se lançasse sozinho nas eleições.
Ele define a proibição de apoiar o PT como um "radicalismo anacrônico" e garante que sairá do partido, acompanhado de outros correligionários, se a regra for aplicada na cidade. "Se um diretório municipal não tem ao menos a chance de decidir a política local, o que nós estamos fazendo aqui?", questiona.
Histórico. O muro que restringe apoios entre os dois partidos começou a ser erguido em 1996, no primeiro mandato presidencial de FHC, com uma resolução da direção nacional petista. O motivo, segundo o secretário nacional de organização do PT, Paulo Frateschi, teriam sido as medidas "neoliberais" aplicadas por FHC, como a privatização de empresas estatais e a adoção de políticas fiscais restritivas. "Tomamos uma decisão política, para marcar nossa diferença", explica.
Já para César Gontijo, secretário-geral do PSDB paulista, a causa dessa restrição teria sido menos nobre: a direção petista teve medo que a máquina do governo federal cooptasse seus diretórios de cidades pequenas. Após a decisão do PT, os tucanos foram pelo mesmo caminho e também proibiram apoios aos petistas. Hoje, Gontijo cobra fidelidade dos diretórios municipais às regras do partido. "O PSDB alcançou o tamanho que tem hoje por causa de sua disciplina", diz.
Outros Estados. Os diretórios municipais do PSDB no Estado de São Paulo são mais fiéis que a média nacional em relação à regra. As três cidades em que tucanos apoiaram candidatos petistas representam apenas 0,4% do total de municípios paulistas. Na soma de todas as cidades do País, o índice é de 3%. Do lado petista, as dez executivas municipais que decidiram pedir votos para tucanos representam 1,5% do total de municípios. Na média nacional, o índice é de 2,5%.
O Estado onde PT e PSDB mais apoiam candidatos do partido oposto é Mato Grosso do Sul: em nove cidades, ou 11% do total, o diretório tucano local pedirá votos para um candidato petista, e em seis, ou 8%, o PT fará campanha para um candidato do PSDB.
Em Minas Gerais, onde PT e PSDB caminharam juntos por quatro anos na capital, Belo Horizonte, o grau relativo de infidelidade também é acima da média. Petistas apoiam tucanos em 51 municípios, ou 6% do total, e o inverso ocorre em 32 cidades, ou 4% dos municípios. / COLABOROU AMANDA ROSSI
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