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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

EX PREFEITO FALA COMO É ESTAR NO "OLHO DO FURACÃO"

Edinho Silva fala como é estar no "olho do furacão"

Em entrevista à Tribuna, ministro comenta sobre Operação Lava Jato, crise política e eleições 2016


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No ‘olho do furacão’, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva (PT), esteve na redação da Tribuna ontem pela manhã e, em entrevista exclusiva, falou sobre tudo: de Operação Lava Jato a eleições, passando por suas corridas matinais em Brasília e pelas suas poucas horas de sono.

A entrevista durou mais de uma hora e foi interrompida por telefonemas três vezes, sendo duas para atender a presidente Dilma Rousseff (PT) e uma para falar com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT). O teor dessas ligações, é claro, nós não sabemos, pois Edinho deixou a sala para poder conversar.
Confira abaixo os principais assuntos abordados.
Tribuna Araraquara — De que forma o rompimento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), pode prejudicar o Governo Federal no Congresso?
Edinho Silva — Primeiro, penso que há um distanciamento do presidente da Câmara para o Governo. Mas isso não significa que os canais de diálogo estejam interrompidos. Tem muito espaço para que o Governo continue dialogando institucionalmente com o presidente da Câmara nas pautas que são de interesse do Brasil. E tem uma outra questão importante. O PMDB, que é o partido do presidente Eduardo Cunha, continua sendo um partido fundamental para a governabilidade. O vice-presidente Michel Temer [PMDB] tem tido um papel central na construção da governabilidade.
Tribuna — E como analisa a figura de Eduardo Cunha?
Edinho — O PT fez uma leitura de que deveria ter um candidato próprio à presidência da Câmara. Democraticamente, lançou um candidato. Eduardo Cunha conseguiu construir uma base de apoio que o levou à presidência. Isso faz com que ele tenha uma maior liberdade de movimentos em relação ao Partido dos Trabalhadores, porque ele não foi eleito com os votos do PT. Mas penso que o Governo tem que manter uma relação institucional de muito respeito e muito diálogo com ele.
Milena Aurea / A Cidade
Edinho Silva
Tribuna — Esse clima de instabilidade [baixa popularidade, Congresso ‘rebelde’] em Brasília será superado de que forma pelo Governo?
Edinho — Se você pegar os principais países da América do Sul, todos os presidentes estão com dificuldades de popularidade, porque o mundo vive uma crise econômica aguda. Na Europa, dificilmente os presidentes estão fazendo sucessores. Quando se vive uma crise com essa dimensão, que se arrasta desde 2008, é difícil ter governantes com popularidade alta. O humor da população se move muito pela questão da economia. Mesmo comparado com outros países do mundo, o Brasil está numa situação muito favorável. Estamos superando a fase do ajuste e vamos entrar na fase do crescimento econômico. No início do ano, os indicadores vão ser mais favoráveis e, no decorrer de 2016, a economia já estará mostrando sinais claros da sua força, da sua recuperação.
Tribuna — Dá para ser otimista com a economia brasileira? A inflação e os juros não param de subir. O PIB caminha para uma recessão. 
Edinho — Sou muito otimista. Para a gente entender a inflação: temos três fatores que são relevantes. Primeiro, o impacto da inflação é o impacto dos preços controlados [combustível, energia elétrica]. Por conta da seca, a pior dos últimos 50 anos no Brasil, o País teve um problema sério com a matriz energética estruturada nas hidrelétricas. Tivemos de acionar outras matrizes, entre elas, as termoelétricas. Isso encareceu muito a energia. A tendência é que essa seca, no ano que vem, já melhore. Outro fator que tem impactado é a questão da alta do dólar. No ano que vem, a perspectiva é de inflação em queda. No ponto de vista fiscal, o Governo está fazendo a lição de casa, está cortando gastos, reduzindo despesas. E, caindo a inflação, é possível reduzir a taxa de juros. Existe um tamanho mau humor em que aquilo que é positivo fica de lado e se dá destaque às notícias ruins.
Tribuna — A investigação da Lava Jato chegou até seu assessor Manoel de Araújo Sobrinho, citado como interlocutor entre a campanha de Dilma e Ricardo Pessoa, da UTC. Ele negociou com o empreiteiro? 
Edinho — No modelo de eleição que tem no Brasil, o financiamento é privado. Se é privado, onde você vai buscar recursos? Com empresários. Nós procuramos a UTC como todos os partidos procuraram, como procuraram a Odebrecht, a Friboi, a Suzano. Ela estava sob uma investigação e tudo aquilo que foi dialogado com a UTC foi dentro da lei. Na primeira vez que conheci o empresário controlador da UTC, foi ele que esteve no comitê. Ele procurou a campanha, dizendo da sua intenção de fazer as doações, tanto para nós quanto para outras candidaturas. As prestações de contas mostram que ele doou de forma significativa para o candidato do PSDB. Ele se dispôs a doar R$ 5 milhões no primeiro turno e, se tivesse segundo turno, voltaria a conversar. Faria duas parcelas de R$ 2,5 milhões. Eu fazia a conversa e o Manoel, que é uma pessoa de confiança e foi meu chefe de gabinete na Prefeitura de Araraquara, honesto e íntegro, era quem depois procurava a empresa para fazer a formalização da doação. Fizemos uma varredura. Você passa um pente-fino na empresa para saber se pode ser doadora. Sendo doadora, ela faz o crédito na conta da campanha e você tem toda uma parte documental para formalizar. O Manoel cuidava desse processo. Eu ficava com a parte política, defendendo a candidatura da presidenta Dilma, e o Manoel fazia a formalização. O que aparece do Manoel é que ele procuraria o diretor financeiro da empresa. O que tem isso de ilegal? Nada, absolutamente nada. Na delação premiada, ele [Pessoa] atribui a mim algum tipo de pressão. Conversei com mais 50 empresários do Brasil. Minhas testemunhas são os outros 49 com quem conversei. Nunca discuti nada com ele sobre Petrobras. O ambiente está muito partidarizado. Uma investigação que deveria ser isenta de paixões, porque é importante para o Brasil, muitas vezes é apropriada por interesses partidários. Eu sei da minha conduta, eu sei o que eu fiz.
Tribuna — Manoel continua no cargo?
Edinho — É evidente. Não tem motivo nenhum para sair.
Kris Tavares/Tribuna Impressa
Edinho Silva
Tribuna — As contas do Governo podem ser rejeitadas pelo TCU [Tribunal de Contas da União] este mês...
Edinho — O Governo apresentou toda sua defesa técnica, mostrando que não tem nada de ilegal nas questões contábeis.
Tribuna — Mas, se o TCU rejeitar as contas, isso pode abrir uma ‘brecha’ para o Congresso entrar com um pedido de impeachment. 
Edinho — Não acredito que isso se caracterize dessa forma. As contas do Governo seguiram algo que era reconhecido como jurisprudência, no que diz respeito aos bancos públicos. Se vai mudar a regra, que se mude para a prestação de contas de 2015. Não acredito que vá haver uma politização de uma questão que é técnica. São ministros [no TCU] que têm história, biografia, um nome. Muitos exerceram cargos públicos e já prestaram serviços à sociedade brasileira. E mesmo que haja um endurecimento do TCU, o Brasil tem lei, regra, uma Constituição que rege o País em relação a um impedimento. Não é uma questão de vontade, tem que ter uma base legal. Não tem nada que caracterize.
Tribuna — As ‘pedaladas fiscais’ não são?
Edinho — O que chamam de pedaladas... Tem uma jurisprudência que, em situações passadas, a mesma forma de contabilizar as despesas foi aceita.
Tribuna — Como analisa esse movimento pedindo o impeachment?
Edinho — A gente não pode se assustar com nenhuma demonstração democrática. Todo mundo tem direito de ir para a rua, expressar sua opinião.
Tribuna — A oposição não soube perder?
Edinho — Tem gente na oposição que tem biografia, história de vida, uma postura estadista. Por mais que pense diferente, tem responsabilidade com a história brasileira. E tem gente que é do “quanto pior, melhor”. Tem que lidar com a oposição de forma democrática.
Tribuna — O senhor se considera um ‘fiel escudeiro’ do Governo Dilma? Como é sua rotina no Planalto, no ‘olho do furacão’? Está conseguindo dormir direito?
Edinho — Eu milito desde os 17, 18 anos de idade. Comecei nos movimentos de igreja, no Jardim Imperador e na Vila Velosa. Em nome da militância, já perdi emprego, já abri mão de muitas questões pessoais. Fui vereador, prefeito, deputado estadual, presidi o PT em São Paulo no pior momento da história do partido. E fui chamado para participar do Governo Federal em um momento de dificuldade. Enquanto eu puder me doar, vou me doar. De fato, a posição que ocupo exige muito. Horas de sono, de lazer... A rotina começa cedo. Leio a imprensa às 5h e faço atividade física por volta das 6h. Quando é 8h30, estou no Palácio do Planalto. É raro o dia em que saio antes das 21h30. É um trabalho intenso, mas enxergo como um serviço ao País. Meu ministério não lida só com a comunicação governamental, mas um dos meus maiores desafios é estruturar a TV Brasil, recuperar a Rádio Nacional, fazer com que a Agência Brasil se organize e se estruture. São desafios estimulantes, mas que exigem muito.
Tribuna — O senhor fica em Brasília ou volta para Araraquara para a eleição?
Edinho — Hoje, sou ministro e vou me dedicar muito. Decisão de candidatura fica para o início do ano que vem. Mas eu nunca descartei, pelo contrário, a possibilidade de disputar a Prefeitura de Araraquara. Hoje, a minha prioridade é dar conta dos desafios no ministério, mas prefiro falar de candidatura a prefeito no ano que vem.
Tribuna — Quais são os nomes do PT, se o senhor não vier?
Edinho — O PT tem vários nomes, mas eu prefiro apresentar o meu (risos). Espero que seja respeitado pelos meus companheiros e companheiras.
Tribuna — O prefeito Marcelo Barbieri [PMDB] afirmou que o único nome forte para derrotar o Governo é o seu, pela sua história. O senhor se sente lisonjeado pelo reconhecimento vindo de seu adversário histórico na política? Concorda com ele?
Edinho — Agradeço o reconhecimento do prefeito Marcelo Barbieri, com quem tenho procurado manter um bom diálogo, mas vou tomar essa decisão no começo do ano. Vindo dele, para mim é um reconhecimento pelo trabalho que fiz na Prefeitura, o quanto lutei pela cidade como deputado e também como ministro, dentro das minhas limitações institucionais.

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