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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

UM ALEGRIENSE EM DESTAQUE...JOÃO BOSCO MEZIARA

Um bom ouvinte Na entrevista a seguir, João Bosco Meziara conta para Sueli Biagini um pouco de sua trajetória profissional e pessoal



Quando o assunto é ginecologia e obstetrícia, o nome de João Bosco Meziara é muito bem cotado. E a afirmativa é verdadeira para várias gerações. Tanto é que mulheres que vieram ao mundo pelas suas mãos hoje recorrem ao médico para dar continuidade ao ciclo da vida. Não, João Bosco não é um médico de idade avançada. Isso pode ser constatado pelas fotos. Mas é um médico experiente: está há 33 anos atuando na área. Nesse período, conquistou muitas pacientes fieis. E qual é o segredo dessa fidelidade? Na entrevista a seguir, concedida à paciente e amiga Sueli Biagini, João diz que não tem mistério, mas que, além de ser um bom ouvinte, o principal ingrediente é a paixão pelo que faz. Ponto para ele! A paixão é vista no seu olhar, no modo como fala tão comprometidamente com a carreira que resolveu seguir quando ainda era criança, em Santo Antonio da Alegria, cidade onde nasceu. De lá, João mudou-se para Ribeirão Preto para cursar o Colegial. Saiu da cidade durante cinco anos para estudar Medicina na Universidade Federal de Uberlândia. Concluiu o curso em 1977. Retornou para Ribeirão Preto, onde fez residência em Ginecologia e Obstetrícia, na USP, em 1978 e 1979. De lá para cá, foi um longo período de evolução, tanto profissional quanto pessoal.

Sueli: Quando você descobriu sua vocação para ser médico, já pretendia ser ginecologia e obstetra?

João Bosco:
Desde a infância, eu sabia que queria ser médico, pois era muito ligado à área de ciências biológicas. Foi durante a faculdade que fui descobrindo algumas áreas afins. Primeiro, excluí algumas especialidades que não queria fazer. Não que eu tenha algo contra qualquer uma delas, mas fui eliminando as que eu não queria fazer. No fim, acabei me interessando mais pela Ginecologia e Obstetrícia porque gosto muito da área cirúrgica. Tanto é que hoje faço pós-graduação em área cirúrgica no Hospital Sírio-Libanês. De todas as possibilidades, esta foi a que mais me identifiquei. Não me interessava muito por cirurgia geral, mas desta área específica eu gostava muito. Antes disso, só pensei em ser jogador de futebol, mas, como não tinha habilidade para isso, acabei me tornando apenas torcedor.

Sueli: Hoje, você atende três gerações: avós, mães e filhas. Poderia me dizer como consegue cativar tantas mulheres?

João Bosco:
Acho que isso não é segredo nenhum. Eu conheço vários médicos que trabalham no mesmo estilo. Primeiro, é preciso fazer aquilo que se gosta de fazer. Você não pode fazer nada por dever, porque é rentável ou porque vai te trazer status. Eu gosto do que faço, tanto é que começo a atender às 7h30 e, muitas vezes, chego às 22h. Outra coisa, que eu aprendi com a Sandra, minha esposa, é ouvir as pessoas. Ver quem está na sua frente e entender que aquela pessoa está precisando de você é essencial. Assim, o profissional consegue irradiar confiança, uma certa simpatia, e isso atrai as pessoas. Desta forma, ser aberto a conversações é fundamental. Então, para mim, a receita é esta: gostar de fazer, ter paciência com tudo isso e saber que você não pode viver sem isso. Eu não consigo pensar, por exemplo, em aposentadoria. Acho que só vou me aposentar quando realmente não tiver mais condições físicas e mentais de continuar. Senão, continuarei fazendo o que gosto.

Sueli: Eu sei que, às vezes, você trabalha mais de doze horas por dia. Isso acontece porque gosta muito do que faz ou porque não consegue dizer não às suas pacientes?

João Bosco:
A questão de dizer não, para mim, não é tão importante. Eu gosto do que faço no meu dia a dia e acho que, enquanto tiver condições de atender quem estiver precisando de mim, eu vou atender. Eu gosto de manter um bom relacionamento com as pessoas e com as minhas pacientes. Então, se eu posso, eu atendo. Não tenho dúvida nenhuma disso.

Sueli: Você é um médico muito bem conceituado, mas acaba sendo também um amigo, um pai e até um terapeuta das suas pacientes. Como consegue ser tudo isso e ainda ser tão calmo?

João Bosco:
É uma questão de maturidade. Como toda pessoa jovem, com os hormônios à flor da pele, eu já tive a minha época impaciente, mas dentro do consultório isso nunca aconteceu. Aliás, esta era uma cobrança da minha mulher. Ela me questionava como eu conseguia manter a tranquilidade dentro do consultório e fora dele não. Agora, eu estou conseguindo conciliar isso fora daqui também. Um dos casos que me incomodava muito era o trânsito, por exemplo. Hoje em dia não. Eu mantenho a minha tranquilidade aqui dentro e lá fora. A calma é uma questão de experiência, de amadurecimento. Hoje, eu consigo saber selecionar o que é mais importante e quando eu devo ficar mais tenso ou não.

Sueli: Com esse ritmo tão intenso, você tem ideia de quantas crianças já vieram ao mundo pelas suas mãos?

João Bosco:
Vamos calcular. Terminei a faculdade há 35 anos, mas concluí a residência há 33. Considerando a média de 15 partos por mês, neste período, seguramente fiz uns seis ou sete mil partos no total. É essa a estatística. Tanto é que eu já faço parto de meninas que nasceram comigo.

Sueli: Você acha que, atualmente, a cura do câncer de mama e de colo do útero é mais eficaz porque as mulheres são mais prevenidas ou porque os meios de comunicação ajudam nessas informações?

João Bosco:
Acho que é tudo isso. As mulheres têm um esclarecimento muito maior nos dias atuais. As informações chegam até sem querer, seja nos intervalos das novelas ou através de revistas de grande circulação. A informação para estimular as mulheres a fazer a prevenção é muito maior. Os meios de comunicação estão massificando isso. A cura acontece porque os meios de diagnóstico melhoraram muito. Hoje, temos exame de mamografia digital, ressonância magnética de mama, a ultrassonografia está muito mais desenvolvida e outros meios para tratar também estão bem mais eficientes. Todos esses itens citados estão envolvidos na prevenção e cura do câncer de mama. Em relação ao colo do útero, o panorama é ainda mais avançado. Temos a vacina para prevenção do câncer do útero. O próprio governo está começando a vacinar, gratuitamente, todas as meninas dos 10 aos 13 anos. Essa vacina já está disponível na rede pública. Estamos estimulando muito isso nos consultórios: a vacinação contra o vírus HPV, que é o causador do câncer de colo do útero. Além disso, as campanhas publicitárias sobre o uso do preservativo também ajudam na prevenção da doença. Hoje, não se vê mais mulheres morrendo disso, a não ser aquelas que têm pouco nível de informação. O câncer de colo do útero é uma doença mais crônica, de evolução mais lenta e há muitas formas de combatê-lo. Atualmente, o problema maior é a promiscuidade sexual. Os índices só não baixam ainda mais por causa disso. Se o governo fizer uma ação em escolas públicas, com meninas dos 10 aos 13 anos, e fazer a vacinação em massa, o problema será resolvido.

Sueli: Atualmente, quais as doenças vilãs da sua área?

João Bosco:
As vilãs são: câncer de mama, tireoide, intestino, endométrio, ovário, mama e colo do útero. Hoje, toda mulher deve fazer, além do exame ginecológico, a mamografia, o Papanicolau e uma avaliação da tireoide. Todo ginecologista, todo clínico geral, aliás, deveria apalpar a tireoide de suas pacientes. Pegamos muitos casos de câncer de tireoide. E toda mulher acima dos 50 anos deve fazer uma colonoscopia, principalmente se tiver caso de câncer de intestino na família. Esses são os grandes vilões da saúde da mulher. Além disso, fora o câncer, não podemos esquecer que um dos grandes males dos tempos modernos é a obesidade. A vida sedentária é um problema não só em mulheres de idade avançada, mas em jovens também. A obesidade, a vida sedentária e a diabetes, chamadas doenças metabólicas, são grandes males, sem falar do fumo. Tirando o câncer, essas outras doenças têm grandes índices. Se a pessoa hoje em dia quiser ter uma vida razoável, ela precisa praticar atividade física, ter controle alimentar, evitar o fumo e buscar um controle psicológico. Atualmente, se consome muito ansiolítico, antidepressivo e se faz muita terapia nesse país. Esses são os pilares que detonam a saúde das pessoas, culminando em uma vida desregrada.

Sueli: O que você poderia me dizer em relação à saúde pública no Brasil? As classes menos favorecidas poderiam ser mais bem informadas e melhor atendidas por intermédio da saúde pública?

João Bosco:
Com certeza, quando analisamos a saúde pública brasileira, precisamos traçar um paralelo e dividir do Estado de São Paulo para baixo. Os estados abaixo são mais ricos, mais informados e com um nível cultural melhor. Uma cidade como Ribeirão Preto, por exemplo, tem vários postos de saúde muito bem equipados para dar atendimento. Pode ser que faltem médicos, mas a aparelhagem dos postos de saúde é muito boa. Além disso, aqui na cidade, temos o amparo da USP, da Unaerp e da Barão de Mauá com suas faculdades de Medicina. Do Estado de São Paulo para cima, o dinheiro que iria para a saúde pública é desviado. Então, a situação é terrível. Os governos — não especificamente o atual — deveriam dar uma atenção especial para isso. É precário, é triste e, infelizmente, é desvio de verba. Isso é lamentável.

Sueli: Além de trabalhar mais de doze horas por dia, você tem algum tempo livre para se dedicar a algum trabalho voluntário na área ginecológica?

João Bosco:
Há quatro anos, sou presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (SOGESP) na região de Ribeirão Preto. Nessa entidade, são organizados diversos trabalhos. Na área científica, por exemplo, nós atuamos em toda a educação continuada da área de Ginecologia e Obstetrícia da região, englobando São Carlos, Franca, Araraquara e todas as cidades menores, através de iniciativas pontuais, além das jornadas de Ribeirão Preto e do apoio que damos à jornada do Hospital Sinhá Junqueira, que é imensa. A SOGESP congrega mais de oito mil associados no Estado de São Paulo. Todos os ginecologistas estão ligados a ela. Na Instituição, também fazemos muitas campanhas publicitárias de prevenção local e nacional. Além disso, durante dois anos, participei ativamente do projeto Voluntários do Sertão, indo até o nordeste. Não fui mais porque não consegui conciliar com a agenda da SOGESP. Porém, sou responsável pela área médica do projeto. Pretendo retomar e trabalhar mais ativamente com isso porque é um trabalho belíssimo, não só na área médica, mas também social, de dentistas, enfim, em todas as frentes em que atua.

Sueli: Se hoje não fosse médico, qual profissão você escolheria?

João Bosco:
Eu nunca pensei em sair da área de Medicina, mas eu gosto muito de informática. Acho que se não fosse médico trabalharia com Tecnologia da Informação. É uma área que eu gosto muito. É uma das minhas paixões.

Sueli: Saindo da área médica, como é o João pessoalmente, com a família? Você tem algum hobby ou não tem tempo para isso?

João Bosco:
No tempo livre, eu gosto de caminhadas. Também aprecio muito viajar de carro, de dirigir. Adoro pegar o carro, colocar na estrada e dirigir. Isso me distrai muito. Então, quando eu tenho um tempo livre, vou para São Paulo porque meus filhos moram lá. Às vezes, pego o carro e vou para outros lugares. Já combinei com amigos de ir para Porto Seguro. Eles foram de avião e eu de carro com os meus filhos. Também gosto da experiência da viagem em si, para outros lugares. Os vinhos também ocupam o meu tempo livre. Gosto de estudar sobre eles. A área de gastronomia me atrai muito. Então, quando eu posso, meus hobbies são esses: caminhada, viagem e vinhos. Também sou muito ligado à família. Ficar em casa lendo me relaxa. Eu leio muito e durmo pouco. Gosto também de cinema. Se pegar uma tarde em frente à televisão, eu assisto muitos filmes. E, fora os hobbies, ocupo meu tempo livre com os estudos. Em dezembro, termino o mestrado em Laparoscopia e Histeroscopia que faço em São Paulo no Hospital Sírio-Libanês. Esse foi um dos grandes avanços que eu fiz na profissão.

MAIS QUE UM MÉDICO, UM CONSULTOR

“Há uns 15 anos, eu conheci o João através de amigas minhas que eram suas pacientes. Eu já tinha ouvido falar muito dele como um ótimo médico, mas, nesta época, eu ainda tinha o meu ginecologista, o Dr. Marcelo Rosochansky, que faleceu precocemente. Em 2002, nós nos tornamos vizinhos e cada vez mais me identifiquei com ele, pois, além de um excelente profissional, conheci o Dr. João amigo e vi que ele é uma pessoa superprestativa. Então, acabei me tornando sua paciente. Hoje, além de meu médico, ele é meu consultor, pois todas as vezes que tenho um problema de saúde ligo para ele e ele me indica ótimos profissionais. Muitas vezes, socorre em momentos inoportunos, fora do horário. O João tem sempre uma palavra de conforto e de carinho para dar. Eu agradeço a Deus por tê-lo conhecido. Enfim, eu sei que sempre posso contar com seu profissionalismo e sua amizade.”
Sueli Biagini

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